João Baptista é uma das grandes figuras do Advento. Aparece no deserto como um profeta impressionante. Soube ler os sinais dos tempos e pressente a chegada desejada do Ungido de Deus. João é um homem. Um homem cuja missão é extremamente importante. Ele é quem deve, no coração de Israel, anunciar um movimento de conversão. Podíamos dizer que ele põe Israel em “Sínodo”, porque pede a Israel que descubra as raízes profundas da sua eleição por Deus. Ele pede a Israel para se redescobrir como povo de Deus.
Mas, quem é este homem que se vestia com pele de camelo e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre? Porque baptiza no rio? Todos se sentiam impressionados com as suas palavras e os sinais deste novo profeta. Suscita todo um movimento popular e uns discípulos que o escutavam como a um oráculo. Terá alguma coisa a ver com o Messias esperado? Ou será ele o próprio Messias?
João desnuda-se publicamente e manifesta a sua identidade. Não quer vestir um traje alheio. Não quer viver de aparências. É livre e límpido de coração, transparente como as águas do rio. Tem o encanto da humildade, o fulgor da verdade. E quando lhe perguntam: «Quem és tu?», a sua resposta é lúcida e convincente:
Eu não sou o Messias. Mas ele é a razão do meu ser. Eu vivo para ele, para o anunciar e preparar a sua vinda. Ele é o Messias, é o Sol, eu sou o satélite. Ele é o Messias, é o Senhor do fogo e do Espírito, eu sou um servo que limpa com água.
Eu não sou o Elias. Mas como Elias, João defendia a verdade religiosa, as exigências da justiça e da caridade; como Elias, João foi perseguido até à morte; como Elias, João não vivia para si, toda a sua existência estava voltada para o verdadeiro Messias.
Eu não sou o Profeta. Uma tradição antiga centrava as suas esperanças no aparecimento de um grande profeta, como Moisés, ou melhor que Moisés. Então voltariam a repetir-se as maravilhas do Êxodo, e Deus tornar-se-ia presente no meio do povo.
Eu sou a voz. João diz palavras, mas não é a Palavra. O Messias é a Palavra, eu sou a voz que se esvazia na sua mensagem. Por isso quando Ele apareça, guardarei silêncio.
Eu sou testemunha da Luz. Eu vi a luz e senti o fogo do Espírito, mas eu não sou a luz nem o fogo. Por isso eu baptizo com água, mas aquele que vem depois de mim baptizará com o Espírito Santo.
Eu sou o amigo do noivo. Ele é o Messias, é o noivo, eu sou o que leva as suas sandálias. O noivo já se aproxima e eu alegro-me de escutar a sua voz. Ele está aqui no meio de vós.
Eu sou o precursor. João tem consciência da sua identidade e da sua missão. Não se considera um personagem de renome. Ele é simplesmente um ponto de referência. A sua identidade está em ser um sinal, um anúncio de outro que está para vir. E a sua missão não é outra senão a de preparar-lhe o caminho.
João chama-se aquele que vai à frente de… o que abre caminhos a… o que anuncia a chagada de…
Aprendamos com João a abrir caminhos novos para que o Messias não seja apenas uma ideia ou uma ideologia mas seja Alguém que eu conheço, porque me encontrei com Ele verdadeiramente. Alguém que, tal como João Baptista, tenho de anunciar e mostrar a todos já presente no meio de nós.
P. António Lopes SVD