Nota Pastoral
Celebremos a Páscoa de Jesus, conforto na dor e luz da esperança
Iniciamos hoje a Semana Santa, que o Povo também se
habituou a chamar a Semana Maior, não por ter mais dias ou mais horas, mas
porque celebra o acontecimento maior da nossa Fé e da própria História.
O sofrimento e a dor, como também a morte, fazem parte
da nossa vida. O próprio Filho Único de Deus, Jesus Cristo, quis fazer
connosco a experiência destes limites
para nos oferecer a vida nova que os supera a todos em definitivo.
É esse mistério da vida vitoriosa sobre a morte, na
pessoa de Cristo, que somos convidados a contemplar e a viver nestes dias de
preparação e celebração da Páscoa.
Iniciamos hoje a Semana Santa, em que celebramos os
acontecimentos finais da vida de Jesus Cristo dentro da nossa História.
Começa com o Domingo de Ramos e tem o seu ponto alto
no Tríduo Pascal, sendo todos nós convidados a percorrer, com Jesus, os
momentos da sua Paixão, da Sua Morte e
da Sua Ressurreição, que venceu a morte de uma vez para sempre.
Este ano vivemos as celebrações da Semana Santa e da
Páscoa em condições de recolhimento
forçado. Mas nem por isso vamos deixar de os viver o mais intensamente possível,
procurando identificar-nos com os sentimentos de Jesus Cristo que, pelo caminho
do sofrimento e da morte, nos abre horizontes novos de esperança, pois, ao
fundo do túnel, já se vê a luz nova da sua Ressurreição.
De facto, não poderemos, este ano, tomar parte nas
assembleias habituais que marcam os dias da Semana Santa, mas vamos procurar acompanhar-nos
uns aos outros, na oração, na meditação destes acontecimentos da vida de Cristo
e na certeza de que estamos sempre unidos na comunhão dos santos,
independentemente dos espaços que ocupamos.
Por isso, a partir de nossas casas, em sintonia com as
celebrações realizadas por nós sacerdotes, sem assembleia e que já nos foram
anunciadas, vamos, ao longo destes dias, valorizar especialmente a nossa
Bíblia, os diferentes símbolos da Fé que temos em casa, como é o crucifixo, mas
também o exercício da Via-sacra e a meditação dos mistérios dolorosos do terço
do Rosário, para além de outros apoios, como leituras, que nos possam ajudar a
sintonizar mais com o Mistério da Páscoa.
Assim, no Domingo de Ramos, diante dos ramos que,
desta vez, não poderão ser aspergidos com a água benta, como é usual, lembraremos
a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e leremos, na nossa Bíblia, a passagem
de S. Mateus 21, 1-11 e, depois de guardar algum tempo de silêncio, leremos a
passagem da carta aos Filipenses 2, 6-11 que nos prepara para escutar o relato
da Paixão de Cristo, segundo S. Mateus 26,14-27,66. Procuraremos que o dia
deste Domingo, que também leva o nome de segundo Domingo da Paixão, seja vivido
de pensamento voltado para a morte de Cristo e seu importante valor de salvação
para todos nós, atitude de recolhimento que procuraremos manter nos três dias
seguintes.
Na Quinta-Feira Santa, de manhã, não vos esqueçais de
nós sacerdotes que, se tudo corresse como em anos anteriores, estaríamos
reunidos, em Presbitério, na nossa Sé, para
renovar as promessas sacerdotais que fizemos no dia da nossa Ordenação. Estão
em causa os vínculos e os compromissos
que nos unem ao único corpo sacerdotal, presidido pelo Bispo Diocesano,
o Presbitério, para servirmos da
melhor maneira o Povo de Deus da nossa Diocese.
Rezai por nós para que este tempo especial que estamos
a viver mais nos motive para redobrado empenho na missão que nos está confiada.
Ao fim da tarde, lembraremos a Última Ceia de Jesus
com os seus discípulos, diante da passagem bíblica que no-la descreve (João 13,
1-15). Lembraremos o episódio sempre muito motivador do lava-pés, mas
principalmente a maravilha da instituição da Eucaristia e também do Ministério
Sacerdotal, que lhe anda intimamente ligado e são realidades decisivas para a
nossa vida de Fé e a vida das nossas comunidades.
A Sexta-Feira Santa, que é feriado nacional para
permitir que ao acontecimento da Paixão e Morte de Cristo possa ser dada a atenção
devida, convida-nos a parar diante da Cruz Redentora de Cristo. Também em nossa
casa o crucifixo terá um lugar especial, neste dia e, por ele, o nosso
pensamento acompanha o percurso que Jesus fez desde o Pretório de Pilatos até
ao Calvário, com a cruz às costas, passando pelo momento da crucifixão e até
àquele final em que Jesus do alto da Cruz nos entrega a sua mãe como nossa mãe,
acolhe o bom ladrão no seu Reino e, com as palavras – “Pai nas tuas mãos
entrego o meu espírito” – expirou.
Abrindo a nossa Bíblia, somos convidados a ler e a
meditar, primeiro uma passagem do Antigo Testamento sobre o Servo de Javé (Isaías
52,12 – 53, 13) e depois o relato da Paixão e Morte de Cristo, na versão de S.
João (18,1-19,42).
A seguir, como superiormente nos é recomendado,
faremos uma prece especial por todos os que sofrem os efeitos da pandemia que a
todos nos afeta e de que maneira. Fazemo-lo, podendo usar as seguintes
palavras.
Oremos por
todos os que sofrem as consequências da atual pandemia,
para que Deus
Nosso Senhor conceda a cura aos enfermos,
força aos que
trabalham na saúde, conforto às famílias
e a salvação
a todas as vítimas mortais
(guardamos silencio)
Deus eterno e
omnipotente,
único refúgio
daqueles que sofrem,
ouvi benignamente a aflição dos vossos filhos que sofrem esta
pandemia, aliviai a dor de quem sofre,
dai força a
quem está a seu lado,
acolhei na
vossa paz os que já pereceram
e fazei com
que todos encontrem o auxílio da vossa misericórdia, neste tempo de tribulação.
Por Nosso
Senhor Jesus Cristo vosso Filho
que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
O Sábado Santo é dia silêncio, diante do Sepulcro de
Jesus.
Lembremos o maravilhoso testamento que Ele nos deixou
e o mandato que nos faz, como seus discípulos, para fazermos com que a causa do
Evangelho continue a contribuir para que todos vivamos a nossa história comum
animados pela verdadeira esperança.
A Vigília Pascal será o ponto alto do Tríduo, como de
toda a Semana Santa. Nela inauguramos o tempo novo que se prolonga, de forma
especial, no Domingo de Páscoa e sua Oitava, se desenvolve no Cinquentenário Pascal,
até ao Pentecostes, e dá o tom a todas
as celebrações do Ano Litúrgico. Nela celebramos a vitória de Cristo
sobre a morte, ressuscitando glorioso do sepulcro para inaugurar a vida nova
que a todos nos oferece.
Por isso, valorizemos, em nossas casas, a vela acesa,
que nos lembra o Círio Pascal, símbolo de Cristo Ressuscitado, mas também a
vela do nosso Baptismo.
Diante dela, acesa, vamos ler e meditar a passagem
bíblica que relata o acontecimento da Ressurreição de Cristo (Mateus 28,1-10) e
também renovar as promessas do nosso Baptismo.
O Domingo de Páscoa, com a cruz florida, será especial
dia de festa para todos nós, que meditaremos, mais uma vez, o sinal do sepulcro
vazio e a Ressurreição do Senhor, com a passagem bíblica de João 20, 1-9.
Entretanto, procuraremos que estes atos celebrativos
da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor sejam vividos, o mais possível, em
sintonia com as celebrações que, em privado e sem assembleia, os sacerdotes nas
Igrejas paroquiais e o Bispo Diocesano na Catedral realizamos, em favor de todo o Povo de Deus,
especialmente dos fiéis e das comunidades que nos estão confiadas.
No Domingo de Páscoa, como já foi pedido, os sinos das
Igrejas tocam festivamente e podem
valorizar-se outros sinais, como a cruz florida, para assinalar em público a
alegria da Páscoa.
Também é sempre possível acompanharmos estas e outras celebrações
transmitidas pelos meios de comunicação, nomeadamente as televisões.
Convido a vivermos estes tempos especiais, embora
muito condicionados, em união uns com os outros, sobretudo através da oração
e do pensamento concentrado no Mistério Pascal de Cristo.
O Papa Francisco diz-nos que o facto de estarmos
isolados, por imposição da pandemia, não pode tirar-nos a criatividade do amor.
Santa Páscoa para todos.
Santa Páscoa para todos.
5.4.2020
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda