Folheando o Jornal "Público" do dia 18 de Março, sobressai entre tantas notícias negativas, um pequeno texto de Frei Bento Domingues, que com muita sapiência, aprofunda a temática da interpretação da Sagrada Escritura ou Evangelho, nos dias de hoje.
Não poderia ser mais oportuna, esta explicação da contemporaneidade da Palavra de Deus.
Transcreve-se aqui alguns excertos do referido texto.
"Quando se diz que a Bíblia é a palavra de Deus, ninguémm no seu perfeito juízo, pode supor que aquela escrita, na sua grande diversidade de géneros literários, seja de pura cepa divina. É escrita humana, com gramática de línguas identificáveis. A significação divina, que lhes é reconhecida pela fé, não supõe nem implica um ditado sobrenatural. As Sagradas Escrituras nasceram em tradições religiosas, marcadas por várias culturas, transmitindo sempre, no entanto, a convicção de que era Deus que falava - "de muitos modos"- nos tecidos da multiplicidade das suas expressões. é na sinuosidade e nas contradições dos caminhos do tempo que se dá o encontro com a eterna e discreta presença divina. Dir-se-á que nem sempre foi essa a posição oficial da Igreja e que as leituras fundamentalistas tiveram consequências trágicas para a sua imagem oficial, perante as descobertas científicas. É verdade, mas espero que seja um capítulo encerrado.
Num célebre documento da Comissão Pontifícia Bíblica, A Interpretação da Biblia na Igreja (1993), são reconhecidas, de modo criterioso, várias abordagens oriundas das ciências humanas. A grande viragem, portta de todas as outras, ficou consagrada com a solenidade: " O método histórico-crítico é o método indispensável para o estudo do sentido dos textosantigos. Como a Sagrada Escritura enquanto "Palavra de Deus em linguagem humana" foi composta por autores humanos em todas as suas partes e todas as suas fontes, a sua justa compreensão não só admite como legítimo, mas pede a utilização deste método".(...)
"A Sagrada Escritura cresce com as leituras interpelantes e interpeladas de cada época e de cada contexto, sem artificialismos ou anacronismos, casando os métodos das ciências humanas com as aberturas ao Espírito de Deus. Espírito actuante em tudo o que é criação de sentido, de beleza e de responsabilidade ética, com a pergunta antiga e sempre nova: "Que fizeste do teu irmão?" (Gen. 4). Pergunta que os cristãos têm de levar para a "rua", diante deste louco liberalismo económico, indiferente à miséria das suas vítimas".(...)
Que cada um de nós, neste período quaresmal, reflicta sobre a riqueza moral e ética deste texto!
sexta-feira, 23 de março de 2012
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