terça-feira, 14 de abril de 2020

Em tempos de crise (20)- Saber definir prioridades

Em tempos de crise (20)- Saber definir prioridades


O mundo está parado por imposição da pandemia.

A prová-lo está o vazio dos dias de Páscoa que vivemos, tomando como exemplos a Praça e a Basílica de S. Pedro em Roma, o Santo Sepulcro em Jerusalém e o bulício das ruas que lá conduzem, nestes dias sobretudo. Mas são também as ruas desertas  das grandes cidades do mundo e os espaços que nestes dias acolhiam grande número de turistas e estiveram vazios.

Diante deste quadro global, que revela muito sofrimento e alguma desolação, escutamos, de novo, o anúncio da Páscoa a dizer ao mundo que tudo vai começar de novo. Mas esse começo não será repetir o passado.


Na madrugada do terceiro dia depois da morte de Cristo, as mulheres dirigiram-se ao sepulcro. O corpo não estava lá e o primeiro pensa­mento foi- roubaram-no. Mas foram surpreendidas por outra explica­ção vinda daquele jovem vestido de branco e depois confirma­da pelo mesmo Jesus que lhes apareceu, com esta ordem: não é tempo de desânimo nem descoroçoamentos. A vida vai continuar, e na Galileia onde tudo começou. Mas vai continuar agora de forma nova, pois o horizonte passará a não ser apenas aquele espaço de reduzidas dimensões e muito desconhecido, mas sim o mundo inteiro que, de facto, aguarda a definição de novos rumos (ver Mateus 26, 1-10).


Também a nós este tempo de paragem obrigatória está –nos a dizer que temos de saber preparar um novo futuro não apenas para este ou aquele país, só para alguns continentes, mas para todos, pois a pandemia é agora um fenómeno global, de que ninguém se pode considerar imunizado.

Já nos vão dizendo que a recessão económica global que se seguirá vai pedir-nos novos sacrifícios; que também nos vão ser exigidas novas regras de relação social após a pandemia, o que terá  de modificar muitos dos nossos hábitos. Pelo menos, enquanto não for descoberto o remédio eficaz, temos de permanecer muito em alerta e reduzir os nosso contactos. Não sabemos, por isso, quando poderemos voltar a realizar as concentrações e os atos sociais e religiosos que marcavam o ritmo da nossa vida.

Este, a gora, é o tempo de definir as prioridades para o mundo novo que necessariamente aí vem. E alguns indicadores já nos estão a chegar. Assim, os que mais sofrem, incluindo as franjas ainda muito alargadas  de população mergulhada na pobreza e que são transver­sais a todas s sociedades, incluindo as consideradas mais ricas, têm de merecer mais atenção e ser mais bem cuidadas. As sanções impostas por alguns governos a outros governos, quase sempre por razões que nada têm a ver com a vida real das populações que sofrem os sus efeitos, têm de ser revistas. O mesmo se diga das dívidas insolúveis de alguns países. A riqueza tem de ser mais bem distri­buída. E todos temos de nos habituar a consumir menos e a partilhar mais. Tem de crescer a consciência de todos para o facto de que o crescimento económico tem limites e sobretudo quando é consegui­do à custa de abusos, quer sobre o trabalho das pessoas quer sobre os recursos naturais, que não são ilimitados.

A prioridade imediata todos sabemos qual ela é – salvar vidas e dar resposta imediata às necessidades emergentes, sobretudo de bens essenciais, como é o caso da alimentação diária. Impressionaram notícias vindas a público sobre crescente número de pessoas a recorrerem à oferta de alimentos destinados aos sem abrigo e aos que vivem em pobreza extrema. É normal que este fenómeno tenha tendência para crescer. Temos de aprofundar as respostas.

Isso exige de todos nós redobrada atenção e proximidade a cada um, de tal maneira que se crie a consciência de que somos a mesma família ou pelo menos estamos no mesmo barco.

Saudamos os muitos sinais de solidariedade que, felizmente, estão a acontecer nestes tempos especiais e particularmente a dedicada atenção dada aos mais necessitados, a começar pelas vítima da pandemia e suas famílias. Mas temos de continuar a ser criativos para que, em vez de sermos surpreendidos pelo mundo novo que aí vem, possamos participar na sua definição.


13.4.2020


+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

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